pin_ups_trio2(ronaldo_miranda)
Pin Ups (1997) – foto por Ronaldo Miranda

Para voltar à história do Pin Ups, na edição nº 4 do fanzine midsummer madness, provavelmente lançado em 1991, nós conseguimos nossa primeira entrevista com a banda. Rodrigo e Guilherme Lariú foram a SP para assistí-los ao vivo no Espaço Retrô e, graças a ajuda da Erica Atarashi, conseguiram entrevistar a banda nos intervalos da gravação do programa Clip Independente, na Brasil 200o FM.

Abaixo, segue a íntegra da entrevista, como foi publicada na edição nº 4 do midsummer madness. Cheia de filosofias juvenis, idiossincrasias da época e muita ingenuidade.

Por favor, levem a imaturidade (de ambos) em consideração.

O Pin Ups lançará seu 6º álbum de estúdio no próximo dia 14 de Junho. Single da música “Spinning” já está disponível no Bandcamp.

Vozes no limite, pedais, barulho, alucinação.
A vida parece correr mais que o corpo em São Paulo, mas infelizmente ela parece se arrastar para os quatro integrantes do PIN UPS. “Sair daqui o mais rápido possível, deixar o país. Essa é a meta principal”, respira fundo Zé Antônio (guitarra e vocal).

Ao escrever esta matéria invariavelmente me lembro da frase “São a banda certa no lugar errado”. Pin Ups, banda paulistana surgida em agosto de 88, toca quase sempre no Espaço Retrô (o Marquee paulistano, uma little England em termos musicais), já lançou um disco pela Stiletto chamado “TIME WILL BURN” mas permanece desconhecida na imprensa nacional (antes anônima e única do que parte dessa geleia de sucessos). É incrível como poder existir no país público ávido por mais lançamentos da Creation ou de discos da regressiva class of 86 (movimento musical inglês que reúne bandas que exploram os anos 60, como Chapterhouse, Primal Scream e Jesus ) mas é incapaz de olhar de relance para dentro de seu próprio país e enxergar bandas que seguem o mesmo caminho. É certo que são poucas, mas o Pin Ups se destaca pois quem já ouviu, garante, como a Stiletto (gravadora independente que tem em seu catálogo My Bloody Valentine, Wedding Present) e várias casas noturnas. Sua aura em São Paulo atinge um raio incrível de distância e foi justamente para apresentar a vibração de suas infernais guitarras com bases deliciosamente distorcidas e bateria incansável que o Pin Ups foi à RÁDIO BRASIL 2000 FM (107,3) participar do Clip Independente (programa de todas meia-noites de sexta-feira onde as bandas fazem jam sessions) para depois darem uma entrevista a seguir. Nela vocês poderão conhecer o Pin Ups segundo suas próprias palavras para tirarem a conclusão de que é imprescindível ouví-los. Ai está:

MM – Qual a formação atual?

Zé – Luis Gustavo no vocal e pandeiros,…

Luis – Pandeiros não porra, vocals and tambourines.

Zé – Tá certo… Zé Antônio, que toco guitarra, Marquinhos na bateria (ex Virgens Lagarto, vocal em “Loose”, 4ª lado A) e Alexandra, no baixo (desde agostode 89)

pin_ups_bizz_1990
Pin Ups (1990) – foto publicada na Bizz, autor desconhecido

MM – Por que a Alê não aparece nos créditos do disco?

Zé – Ela não está no disco porque na época em que o disco foi gravado ela ainda não estava conosco, quando ela entrou o disco já estava prensado. Quem fez o baixo foi o Luis.

MM – Quando, onde e como surgiu o Pin Ups?

Zé – Se eu não me engano, faz dois anos e meio. Eu tinha outra banda e estava descontente, tocava jazz, essas coisas. Cansei de técnica e formei uma outra banda mas continuava descontente. Achei num anúncio duas garotas que eram terríveis. Não tinha formado uma banda ainda, mas como o Luis estava comigo nessa, decidimos continuar. Acabamos arrumando alguns shows, levamos em frente, fomos trabalhando sério e daí…

MM – Como definiriam o som de vocês? Qual adjetivo que preferem?

Luis – É uma ótima música, eu acho perfeita e é o tipo de música que se eu ouvisse num disco, compraria.

(Se permitem a intrusão, podemos tentar definis usando o cliché do liquidificador: pode chacoalhar psicodelia sixtie, virilidade de MC5 e Stooges, baixo na marcação, guitarra furiosa, voz arranhada, um pouco de álcool e pó. Deixo o resto por conta das palavras deles porque existe aí um ingrediente bem Pin Ups que só os ouvidos iniciados percebem)

MM – Porque o nome Pin Ups?

Zé – Só porque é sonoro e também porque era curioso: Alê ainda não estava na banda, era até uma piada: garotinha, ninguém aqui parece com garotinha. Eu sou gordo, feio; Luis é míope…

MM – Quais são as influências de cada um?

Marquinhos – Puta…?! Nhoque com coca cola, eu adoro…

Zé – Eu nunca tentei tocar um nhoque então… pelo menos algumas bandas noise dos anos 60, psicodelia e Velvet Underground. Coisas desse tipo, mais sixties…

Alê – Vou mais pela linha do Zé… eu acho que desde o punk rock (principalmente punk rock), pós punk, sixties, assim, muita coisa…

MM – Influências literárias…?

Alê – Eu tenho!  Muitas, muitas.

MM – Uma…

Alê – Ah… uma?

Luis – Aquela revista Rudolf, é a minha maior influência literária.

Alê – Artaud, Baudelaire (fazendo jus à suas veias francesas) e Byron.

Zé – Eu gosto muito do Existencialismo. Sartre é meu escritor predileto, “A Idade da Razão” foi o único livro que para mim mudou alguma coisa. (A letra de “Loose” é um exemplo)

MM – Como saiu o disco? Era ideia antiga e tiveram que batalhar ou saiu fácil?

Zé – Não foi fácil. Nós sempre tivemos como objetivo gravar um disco, assim como qualquer músico, mas o curioso é o descaso das gravadoras, incluindo as independentes. Por exemplo… aquela gravadora que nem ouviu a gente…?!

Luis – Aquela gravadora de skins (skinheads), Devil Discos!

Zé – A gente até hoje só de sacanagem passa pela gravadora e pergunta: “E aí?”, os caras respondem: “Pô cara, não tive tempo de ouvir ainda”. Um pessoal ouviu e passou nossa demo para a Vinil Records que decidiu lançar o disco. Só que a Stiletto ficou sabendo, pulou na frente e fez uma proposta melhor, que inclui distribuição pela CBS e nós ficamos com a proposta mais interessante.

MM – Porque o disco é gravado em oito canais?

Thomas Pappon à BR2000 FM – … lançamos os Pin Ups e tal… é uma fita que não tem… engraçado, é muito curioso porque as gravadoras em geral não trabalham com os padrões que nós trabalhamos. Se a fita demo tem um som que representa a identidade da banda, vamos lançar! E apesar dos problemas técnicos com a fita dos Pin Ups a gente botou na praça… (Pappon trabalhava na Stiletto)

Zé – Foram as condições que tivemos. Questão de tempo e dinheiro, com a grana que tínhamos nós gravamos uma demo no Estúdio Pappon (d0 irmão do Thomas) em oito canais, remixamos em DAT e pronto…

MM – O disco, como resultado final, agradou a vocês?

Zé – Todo o Pin Ups gostou, mas se fosse hoje faríamos de outro jeito, mas ainda não seria definitivo.

MM – É por isso que o nome do disco é “Time Will Burn” ( O Tempo Queimará)?

Zé – Exatamente.

MM – Tenho notícias de que no Sul o Pin Ups toca na Ipanema FM. Vocês querem aparecer mais em FMs?

Zé – Não temos nenhum tipo de preconceito em relação às FMs… O que acontece é que as FMs têm preconceito… Sempre acham que o som é sujo, é barulhento e por isso não tem mercado. Nós queremos aparecer na mídia, quanto mais melhor.

pin_ups_entrevista_midsummer_madness_1991
Pin Ups em entrevista ao fanzine, na Brasil 2000 FM. Da esquerda para direita, Luis Gustavo, Rodrigo Lariú, Alê Briganti, Guilherme Lariú, Marquinhos ao fundo, Zé Antônio de costas. Foto por Chiquinho

MM – As letras são todas em inglês, isso atrapalha?

Zé – A gente canta em inglês por causa da sonoridade. O tipo de som da gente é pra ser cantado em inglês. É para gente tentar mostrar lá fora.

MM – Já tem planos para sair do país?

Zé – Ah, sim!

MM – A Stiletto já mandou o disco para o exterior?

Thomas Pappon à BR2000Fm – A Stiletto já mandou discos do Pin Ups para uma série de gravadoras: Creation, 4AD, SST (EUA), Beggars Banquet, puta, muita gente…

MM – Luis Gustavo fez a parte gráfica do disco, Márcio Jumpei as fotos (a da contracapa se assemelha a de um disco do Primal Scream…) Em que você se inspirou?

Luis – Como já disse, sem Ultraseven e Ultramen na minha infância não teria sido possível fazer essa capa…

MM – Os mesmos componentes do Pin Ups têm um projeto mais acústico chamado Gash. Zé, um resumo sobre o Gash…

Zé – Nós temos músicas e até covers que gostaríamos de tocar mas como são mais leves, sem distorção, nós separamos do som e dos shows do Pin Ups, que são extremamente barulhentos. Ficaria estranho alguém ir ao show do Pin Ups e se deparar com composições leves e covers de Loop, Spacemen 3, etc…

MM – Qual o melhor show que já deram?

Zé – O melhor show… Eu particularmente gostei de um show de lançamento do disco no Retrô… O pessoal estava muito agitado, sentimos uma empatia muito grande.

MM – Qual seria a cover que tocariam quando show precisasse de um clímax?

Zé – “I Wanna Be Your Dog” (Stooges)

Luis – Ou “Ramblin’ Rose”(MC5)

Marcos – Já pensou? Tocar “Ramblin’ Rose” no Marquee…

MM – Luis Gustavo já desenhou para a Animal, Chiclete com Banana e Folha de São Paulo (ilustrações). Queria que você desse a sua visão sobre os quadrinhistas e fanzineiros nacionais…

Luis – Eu acho que 99% dos quadrinhistas brasileiros são sofríveis, que se salva sou eu, o Osvaldo, Fábio Zimbres, o Líbero. Acho que o Brasil carece não só de publicações de HQ como de cultura em geral.

MM – E sobre zines?

Luis – Acho que eles tem que ter em mente que devem parar com o amadorismo, tem que partir para algo mais bem feito, mesmo sendo fanzines…

pin_ups_circo_voador_RJ
Pin Ups no Circo Voador, 1992

Além disso eles trocaram farpas com fãs da Legião Urbana (porra, bicha de bigode, isso existe?… como observou Marquinhos), rejeitaram as críticas de que são parecidos com Jesus And Mary Chain (“Não acho que sejamos parecidos com Jesus mas é até legal para o público ter uma referência, diz Zé) e exaltaram seus instrumentos (entre eles um cry-baby, pedais Marshall, Fender Jazz Bass, e uma bateria que ainda não possuem e outro pedal Arium – “que dá uma distorção vagabunda, mas maravilhosa”, segundo Zé)

MM – As bebidas e as drogas são integrante da banda?

Alê – Claro…

Marcos – Sem elas quem estaria vivo?…

MM – Então uma pergunta difícil: sexo, drogas ou rock’n’roll?

Pin Ups – OU???

Alê (depois de certo tempo) – Sexo

Zé – Sexo, com certeza.

MM – O que vocês acham do MM?

Alê – Eu já vi, é legal.

Luis (respondendo a intrigante pergunta) – Sexo é a minha droga favorita ouvindo rock’n’roll.

[Fim da entrevista]

©midsummer madness 1997-2024