25/12/2018 – RETROSPECTIVA 2018

11/10/2018 – DOIS ÁLBUNS E EP DO TAMBORINES DISPONIBILIZADOS NO DIGITAL

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foto por Rodrigo Carvalho

Não me lembro exatamente como conheci o The Tamborines mas era o começo dos anos 2000. A banda era de Maringá (PR), que na época, junto com Londrina, era a meca dos shows de bandas indies brasileiras. As duas cidades eram para nós, cariocas, como o Eldorado perdido no Oeste Paranaense. Eram as únicas cidades que bancavam financeiramente idas de bandas como Pelvs e Cigarettes para tocar em eventos lotados com pessoas cantando músicas que não tocavam no rádio. 

Não me lembro se o 1º EP do Tamborines apareceu numa destas viagens, minhas recordações dessa época são flashs bem esfumaçados. Talvez a conexão esteja em Henrique Laurindo, fundador, guitarrista e vocalista do Tamborines, e ex-integrante da Hellen Bisker, outra preciosidade escondida nos arquivos do indie rock nacional.

O primeiro ep chegou ao midsummer madness no show do Stereolab, relembrou Henrique. “O Flavio, que fazia a Candy Records, levou umas cópias pro show e passou pra uma galera. Daí o Gilberto Custódio (do fanzine Esquizofrenia) escreveu uma resenha do show do Stereolab e dedicou quase metade ao nosso ep! Nos dias seguintes recebemos vários emails, inclusive um pra tocar no Lado B da MTV, se nao me engano”.

O que interessa é que o primeiro EP do The Tamborines, “Dressed Up To Better Feel the Sun” saiu em 2000 pela Candy Records e o midsummer madness começou a distribuir o CDR em seu catálogo como mm46.

O texto publicado na primeira versão do site do mmrecords.com.br dizia assim: O nome, The Tamborines, é uma homenagem a uma das melhores bandas americanas de todos os tempos, o Byrds; o som é um compêndio das melhores coisas do indie pop, tanto atual quanto dos 90’s; junte a isto uma pitada generosa de folk psicodélico e experimental (como Nick Drake, os próprios Byrds e o pai de todos – Bob Dylan) e também algo de Velvet Underground e Monkees e terá uma das bandas mais bacanas que apareceram por aqui nos últimos tempos!

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foto por Bulla Jr.

Formada inicialmente por Henrique (guit/voz) e o baterista Renato Tezolin, a formação se completou com Luciana Grave (teclados), Fábio Shimonishi (baixo), Marco Aurélio (pecurssão) e o trompetista Alysson Steimacher.

O EP com quatro músicas foi descrito assim no mmrecords: “A primeira “The Most Important Thing (Has Gone)” possui uma suavidade melódica que faz juz à comparações (não exageradas) com o requinte harmônico de um Belle & Sebastian. Pop, simplesmente pop! “The Milltown Flowers” tem vocais trabalhados que remetem aos saudosos ingleses do Ride, novamente seus teclados são um show parte. Praticamente conduzem brilhantemente toda esta melodia… pop! Exatamente! Outra melodia absurdamente pop!

“Naissance De La Folie” é outra de beleza arrebatadora. Seus teclados agora nos remetem aos Tindersticks, menos soturnos. Detalhes como as guitarras de fundo que aparecem em algumas partes da música sublimam o capricho e a riqueza melódica do Tamborines, tão ausente hoje em dia.

Já “Pillow” é a porção Monkees do Tamborines soando absurdamente 60’s, confundiria até o mais tenaz observador. Esta canção fecha um single que vem pra fazer história na música indie brasuca, pode até ser que amanhã ou depois esta banda deixe de existir, mas pelo menos os Tamborines podem dormir tranqüilos, eles serão sempre bem lembrados.

Um excesso merecido de adjetivos que me fez lembrar as descrições que a Low Dream usava para si mesmo nos anos 90. Sim, The Scene That Celebrates Itself. Não me lembro (pra variar) o que acontecia com a banda na época mas é engraçado notar que o texto terminavava falando sobre o provável fim de uma banda que estava apenas em seu primeiro EP!

Nessa época, para deixar ainda mais evidente como é falha a memória deste que vos escreve, me lembro de um (des)encontro curioso com a banda em São Paulo. Eu morava no Rio e havia ido a SP para ver um show do Tamborines em algum inferninho da capital paulista. O programa default da época era bater ponto na Galeria do Rock sábado à tarde. Estava por lá quando um grupo de pessoas se aproximou falando comigo como se eu os conhecesse. Fico sempre muito intimidado quando isso acontece. Devo ter sido meio esnobe e de poucas palavras. O grupo de pessoas não mencionou o show nem ao menos que eram de uma banda. Devo ter passado uma péssima impressão a estas pessoas, de um cara blasé e convencido. Mas não me importei muito.

Qual foi a minha surpresa a noite ao ver subir no palco exatamente o grupo de pessoas que havia me encontrado à tarde e eu não tinha reconhecido! Sim, eu não havia reconhecido uma banda do próprio selo!!!! A meu favor, além de assumir a péssima memória para nomes e fisionomias, naquela época ainda não havia essa profusão de selfies e imagens em redes sociais. De qualquer forma, fica meu pedido de desculpas eterno ao Tamborines, que fizeram um lindo show naquela noite.

Depois disso perdi contato com Henrique até descobrir que ele e a Luciana (usando o pseudônimo Lulu Grave) tinham se mudado para Londres. Na capital inglesa, anos depois, o Tamborines prosperou. Fazendo shows em pubs, conseguiram gravar seu primeiro compacto em 2005 –  “What Took You So Long” saiu pela Decadent Records. Em 2006, outro compacto para a música “Sally O’Gannon” saiu via Sonic Cathedral (em vinil amarelo).

Em 2008, as músicas “Come Together / 31st Floor” também sairam em compacto, agora pela próprio selo, Beat Mo, fechando a tríade obrigatória que qualquer banda novata precisa cumprir antes de se aventurar no álbum de estreia. Estes singles traziam na produção nomes Brian O’Shaungnessy (My Bloody Valentine, Primal Scream, The Clientele) e Tim Holms (Death In Vegas).

O álbum de estreia veio em julho de 2010, “Camera & Tremor” e saiu pelo próprio selo, o Beat Mo. Gravado e produzido por eles próprios, “Camera & Tremor” traz o som psicodélico do Velvet Underground, reprocessado pelas microfonias do Jesus & Mary Chain, Sonic Youth e Guided By Voices. O disco traz também a participação do vocalista do Ride, Mark Gardener, fazendo backing vocals em “Sally O’Gannon” e em “Come Together”, e Frank “Teardrop” Emerson (guitarrista no Brian Jonestown Massacre) tocando melodica na faixa “Be Around”, além de uma versão da música “Let Me Down” do Pin Ups (do disco “Scrabby“). Uma música do 1º EP, “Naissance de la Folie” também foi regravada para este disco.

The Tamborines

foto por Bulla Jr.

O site PopMatters escreveu sobre o disco: “Excelente estreia mostra que ainda há muita vida no shoegaze. Com alguma sorte, os Tamborines estarão por aí por um tempo para explorá-lo para nós“. Curioso como, novamente, em seu álbum de estreia, tem alguém já falando sobre o fim da banda.

O semanário inglês NME copiou a gente, derramando elogios em seu site: “Refrões insanamente grudentos + guitarras incrivelmente altas = pop perfeito”.  O blog Drowned in Sound pegou ainda mais pesado: “White noise + drone constante X sensibilidade pop = a música mais excitante desde que heroína passou a ser considerada fora de moda“. E o Tamborines ainda conseguiu chamar atenção, mesmo que discreta, do sisudo The Times: “Uma explosão inebriante de pop com guitarras-fuzz.

Para divulgar o primeiro disco, o Tamborines tocou com alguma frequência no Reino Unido e fez turnês pela Espanha e Alemanha. Lançaram um 2º single, para a música “Black and Blue” (selo Soft Power) em 2011, que foi tocada na rádio BBC por Steve Lamacq, Gideon Coe, Lauren Laverne e impressionou inclusive o ex-Cocteau Twins e dono do selo Bella Union, Simon Raymonde, que na época também tinha um programa na rádio e tocou o single do Tamborines.

Foram longos anos até que em 2015 finalmente saiu o 2º disco, “Sea of Murmur“, pelo selo da banda, o Beat Mo. Foi com esse álbum que a previsão de que um dia a banda acabaria começou a se concretizar. Com 11 músicas, gravado e mixado por Henrique e Lulu em seu home studio em Shepperds Bush, o casal chegou ao resultado final com a separação quase consumada. “As coisas estavam caindo aos pedaços entre nós, então decidimos que esse disco tinha que ser uma declaração mais pessoal e humana do que a nossa estreia”, explicou Henrique em entrevista ao site da revista London in Stereo, em março de 2015

‘Sea Of Murmur’ foi lançado em CD e em vinil vermelho, incluia novas mixagens de “Black & Blue” e “Indian Hill”.  Talvez menos dedicados e com as relações entre o ex-casal complicadas, “Sea of Murmur” não teve o mesmo trabalho de promoção que o disco anterior mas ainda assim o blog For The Rabits escreveu: “É o tipo de beleza sinistra, melódica e simplista que foi moldada com sucesso consistente desde o final dos anos 80. Há tons de The Vaselines, Teenage Fanclub e Beat Happening por toda parte.

Sem ter anunciado seu fim oficialmente, o Tamborines já não existe mais como banda. Em abril de 2018, Henrique fez o primeiro show com sua nova banda, Buffalo Postcard.

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