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Em 1997 eu tinha acabado de garfar meu primeiro emprego de carteira assinada. Os tempos eram complicados e conseguir um emprego de carteira assinada era coisa pra caramba. Me lembro de ligar pro meu pai para avisar que dali em diante eu pagaria meu próprio aluguel, sem precisar de ajuda. E chorei horrores no telefone com ele, agradecendo por tudo que tinha feito até então. Eu tinha 24 anos de idade.

I used to crush my toys
When I was a little boy and now
These things return to me
So deep inside

Morava num apertamento de quarto e sala na Lauro Muller, próximo a Urca, no Rio de Janeiro. Não sei como eu consegui lidar com as contas porque naquele mesmo 1997, mais ou menos nessa época, final do ano, eu ainda paguei 1/3 da prensagem dos primeiros álbuns do midsummer madness, o mmcd01 e o mmcd02, respectivamente “Bingo” do The Cigarettes e “Members to Sunna” da Pelvs. Deve ter sido porque os outros dois terços vieram dos meus novos sócios, Rodrigo Letier (na foto acima comigo, em 1998, na porta do 3º dia da 1ª edição do Algumas Pessoas Te Fuder) e Marcos Rayol.

Devo ter também usado meu primeiro 13º salário pra isso. Quando a caixa com os discos chegou no Freezer, que era o estúdio que o Dodô e o Gustavo (ambos da Pelvs) haviam montado e onde os dois discos foram gravados, fui buscar imediatamente. Não me lembro como mas 2000 discos couberam dentro do meu quarto e sala. E agora? Como é que faz para vender isso?

“Não se preocupe pai, vai dar tudo certo rsrsrs”

Duas décadas e meia depois dá pra dizer que deu tudo certo. Ou parcialmente. Eduardo Ramos, que em 1997 lançava fitas com seu inesquecível selo Slag, resolveu remixar “Bingo” usando as gravações das fitas originais sem incluir nada da tecnologia que temos hoje. Junto com Colares, eles descobriram um monte de “coisas” que haviam ficado de fora da mixagem original de 1997, principalmente guitarras.

As novas mixagens das 16 músicas ficaram tão absurdamente legais que a gente tentou fazer um crowdfunding para bancar uma versão de luxo, num pacotão com LP, compacto, reedição em CD, fanzine, videoclipes e um monte de coisa que meu salário e incompetência de 1997 não permitiram. O jornalista Marco Antônio Barbosa relembrou o espaço de tempo entre lançamento e relançamento brilhantemente aqui neste texto, dá uma lida. Eu, Marcelo, Eduardo e mais alguns amigos falamos sobre aqueles tempos neste podcast, ouça.

Mas o crowdfunding deu errado. Então a músicas estão sendo lançadas hoje, 11.11.22, em formato digital.

Se você ouvir com fone, é de arrepiar. As “coisas” que não podiam ser ouvidas na versão de 1997 agora aparecem arrebentando seus ouvidos. É impressionante como as guitarras do Marcelo são poderosas, ganchudas: “Junk” por exemplo. Por que ficaram escondidas tanto tempo? (As respostas estão em parte no podcast acima).

algumas pessoas lugar comum 1997

Uma das minhas favoritas, “Blues”, tem a voz do querido Fábio Leopoldino (Second Come e Stellar) ali do ladinho, dentro do ouvido. “Lips 2”, hit absoluto do Cigarettes na época, é uma das que mudou quase nada, não precisava. O baixo de “You Gonna Make a Movie” caberia em qualquer banda de speed-death-metal e está sensacional. “Friendship” continua dolorida, me faz lembrar de erros e términos mas agora parece funcionar ainda melhor na pista 2 da Matriz, enfumaçada, com estrobo piscando a mil. Se perder nestas pistinhas resolvia quase todos problemas da vida naquela época.

there’s something wrong with me
you say to me
cos’ I take a lot of drugs
I take lots of drugs
Every day, there’s nothing more to say

E como se não bastassem as 16 músicas do “Bingo” de 1997, Colares e Eduardo reposicionaram a instrumentação de outras quatro músicas que foram gravadas nas mesmas sessões de 25 anos atrás. Entre elas, outra das minhas favoritas, ‘Lautréamont’, que eu sempre escrevo o nome errado. A primeira versão, meio bedroom-synthpop, tinha ido parar numa coletânea em CD do programa de rádio Cult 22, Brasília, e agora reaparece dentro do disco.

Peraí, eu achei que seria maneiro dar minha opinião sobre cada uma das novas versões das músicas mas vou parar aqui. O legal é você achar suas lembranças ai no meio.

Vale complementar que o Eduardo-25-anos-mais-velho, cheio de contatos maneiros, foi achar o Alan Douches, produtor musical que tem uma carreira invejável com um monte de gente famosa, pra remasterizar o novo “Bingo”. Tá lindo demais gente, chique no úrtimo como diria minha tia de Itaperuna. Aliás, aquele vídeo antigo de “Friendship”, com a versão de 1997 da música, tem imagens antigas da minha família, lá de Itaperuna. Eu sou o menino jogando bola em 00:32 e em 02:56.

baby you gonna make a movie
it’s about us
you gonna make it all
all the parts
you gonna make it happens
when you start
you gonna make it great
you’re a star

Ouça o novo “Bingo” aqui na página do Cigarettes no mmrecords.com.br
Ou então, numa resolução de áudio altíssima no Bandcamp, onde você baixar e comprar a versão digital também.
E está no streaming, essa coisa futurista:
Spotify
Apple Music
Deezer
Amazon Music

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