Opiniões pequenas sobre discos de 2014
Passamos alguns meses ouvindo discos de listas de melhores de 2014. É um desafio dedicar atenção merecida a alguns possíveis clássicos e até deixar passar outros. São opiniões de momento, que podem mudar daqui a minutos, dias ou anos. A intenção é ajudar a selecionar o que ouvir entre os novos.
A divisão entre BONS, MÉDIOS e RUINS significa que os primeiros merecem sua audição; os do meio você ouve se quiser. Quanto aos últimos: não perca seu tempo. No final da lista, uma playlist com uma seleção de algumas músicas, mesmo dos RUINS (toda regra tem exceção). Essa playlist vai continuar mudando, aumentando provavelmente.
Não incluimos artistas nacionais nesta lista, por pura preguiça.
Algumas menções honrosas: ainda não deu tempo de ouvir / assimilar: Hookworms, Swans, Gruff Hyss, Damon Albarn, Luxembourg Signal, Blonde Redhead, Popguns, Bluebells, Tweedy e Vacant Lots. Mas também não dava para deixar este post para dezembro de 2015, né? Outra menção honrosa é o Belle & Sebastian novo, que saiu em 2015 mas acabou entrando na dança.
Algumas opiniões:
BONS
Fear of Men – Loom (Kanine Records)
Talvez a melhor surpresa, baladas e roquinhos à la Belle & Sebastian.
The June Brides – She Seems Quite Fine
Formado em 1983, assíduos do palco bar de McGee, o Living Room, June Brides lançou um EP com três músicas em 2014. E todas as três músicas são incrivelmente boas. Uma mistura de psicodelia anos 60 mal feita, trumpetes aqui e ali, e melodias lá-lá-lá. Se você gosta de Sarah Records e Luisa Mandou um Beijo, este EP é um prato cheio.
Close Lobsters – Kunstwerk in Spacetime (Shelflife)
EP com duas músicas gravadas após reunião em 2014, melhor do jangle indie pop do final dos anos 80. Para quem não entendeu, é uma mistura de Go Betweens, surf music e folk music. A música “Now Time” vai te deixar com saudade das coisas boas do Hoodoo Gurus.
The Hobbes Fanclub – Up at Lagrange (Shelflife)
Trio inglês lançou seu álbum de estreia; tem baixista brasileira, Fabiana Karpinski. Disco razoável, fácil de ouvir para fãs de Velocity Girl e Black Tambourine mas sem a brilhante aspereza guitarrística desta última.
Tv on the Radio – Seeds (Harvest Records)
Mais um bom disco deste quarteto do Brooklyn. Como a maioria dos discos da banda, Seeds também não é brilhante mas traz músicas que podem virar hits, como por exemplo “Could You” e “Happy Idiot”. Do meio pro final, algumas músicas com instrumental proto-punk tornam a audição bem agradável também.
Thurston Moore – The Best Day (Matador Records)
Tiozão de volta em boa forma. Apesar do filme queimado como marido que trai, dissolução da banda mais importante dos anos 1990 e experimentalismos péla-saco, The Best Day traz de volta o timbre e as repetições de guitarra que são a marca registrada do moço. O disco pode agradar em cheio a órfãos do Sonic Youth circa “A Thousand Leaves” / “NYC Ghosts & Flowers”.
Temples – Sun Structures De-luxe Version (Heavenly)
Álbum agradabilíssimo de ouvir, uma onda psicodélica 60´s true tipo Byrds, Love, Jefferson Airplane. Ou pros neófitos, The Coral.
MÉDIOS
The War on Drugs – Lost in the Dream (Secretly Canadian)
Superestimada até a medula, esta banda da Philadelphia que já teve Kurt Vile como integrante, mistura instrumental à la Dire Straits e U2 anos 80 com um vocal que homenageia Bob Dylan. O bom é que Dire Straits e U2 anos 80 tem alguns momentos instrumentais legais. Por isso algumas músicas do War on Drugs são bem bacanas, pra dançar tipo Molly Ringwald, dando chutinho no ar. O ruim é que a breguice de solos de guitarra e moods de piano também estão lá, o que torna as “músicas ruins” MUITO RUINS. Tipo “Suffering” e a faixa título. Pra piorar, lá pelas tantas a coisa começa a ficar repetitiva.
Allo Darling – We Came From the Same Place (Fortuna Pop!)
A faixa título é bem bacaninha, uma volta ao pop-rock básico de vocais femininos à la The Sundays. Mas no geral é pouco inspirado. Um Camera Obscura menos swingado (se isso faz algum sentido).
Dum Dum Girls – Too True (Sub Pop)
Não conheço bem os discos anteriores, mas continua na mesma vibe Siouxsie, Curve, um misto de pós-punk oitentista com rock coxinha. O clima mega produzido das músicas dá um ar fake mas tem alguma energia.
Whitered Hand – New Gods (Fortuna Pop / Slumberland)
Assessorado por integrantes de bandas como Vaselines, Belle & Sebastian e Black Tambourine, deveria ser um disco incrível. Um pé no folk deixa o violão sempre audível nas 11 músicas deste 2º disco de Dan Wilsson. Mas lá pela 6ª ou 7ª faixa, começa a enjoar. O começo com “Horseshoe” e “Black Tambourine” são meus destaques.
Flowers – Do What You Want To, It’s What You Should Do (Kanine Records)
Primeiro álbum inteiro do grupo inglês após vários singles e EPS. Produzido por Bernard Butler do Suede vai frustrar aqueles que gostam de glam rock. Flowers segue a linha dream pop de Allo Darling e Sarah Records. A bola fora é a voz enjoada da vocalista Rachel Kenedy.
Spoon – They Want My Soul (Anti)
Oitavo álbum da banda bonitinha de Austin. O Spoon se parece com bandas cheirosas tipo Phoenix e Cake que não incomodam a gente e agradam seus amigos coxinhas (em SP) e playbas (no RJ). Mas também não “agrega” valor à sua discoteca. Ter todos os discos do Spoon na prateleira? Pra quê? Eu faria um bom disco do Spoon com 12 músicas. Deste disco “Do You” se destaca.
Dean Wareham – Dean Wareham (Double Feature)
Mais musiquinhas à la Velvet Underground, clima de barzinho. Algumas solos de guitarra excelentes e arranjos marcantes, mas no geral é mais do Luna e um sub Galaxie 500.
Caribou – Our Love (Merge)
O ex-Manitoba com mais um disco de chill-out. Dá pra ouvir num veleiro em Angra ou na Cote D´Azur ou numa loja de fashionista-hipster-wannabee. Mas como esta não é a nossa onda… Valem também as mesmas colocações sobre synth-pop 80´s do Future Island.
Avi Buffalo – At Best Cuckold (Sub Pop)
Segundo disco com hiponguices californianas. Quando entra o violão ou piano e a voz dá um sono, um tédio… mas algumas faixas se salvam como “So What” e “Think It´s Gonna Happen Again”.
Pains of Being Pure at Heart – Days of Abandon (De-Luxe Version) (Painbow Music)
Talvez a versão Deluxe seja muito extensa, enjoativa. Mas o PBPH sempre foi essa coisa entre o indie e o pop. Muita chupação de Cure à la Disintegration, pouco inspirado.
Literature – Chorus (Slumberland)
Segundo disco, um pé no twee, um pé no pós-punk e melodias legais. Mas não empolga; é fácil de ouvir mas não marca. Expliquei?
Ariel Pink – pom pom (4AD)
Como no disco anterior, tem lampejos de criatividade mas a maluquice desenfreada comete erros grotescos no meio do caminho. As melhores músicas são as que remetem ao pós punk gótico dos anos 80, algo como um Sisters of Mercy sem maldade.
FRACOS
Firefiles – in Dreams
Fofo, tão fofo, mas tão fofo que enjoa. Aquela voz enjoada, de seda, ô coisa irritante. É indie até a medula, por isso enjoa.
Beck – Morning Phase (Capitol)
Longo, cheios de clichês do folk e a voz de Eddie Vedder elevada à quinta potência. Merece um Grammy porque é clichê, tipo as coisas do Grammy. Dentro do normal do Beck, discos bons seguidos de discos ruins.
Future Islands – Singles (4AD)
Primeiro disco do trio synth-pop pela lendária 4AD. Deve agradar quem amou os anos 80 ou a neófitos que não viveram esta época. Não é duro de ouvir mas é irritantemente derivativo. Tente ouvir David Bowie e seu álbum “Let´s Dance” ou “Vienna” do Ultravox que dá no mesmo.
Ex Hex – Rips (Merge Records)
Com a ex-Helium Mary Timony como band-leader, o 1º álbum pela gravadora do Superchunk é glam e proto-punk. Se você gosta disso, deleite-se com os clichês do gênero, usados sem moderação neste disco.
Nossa conclusão para Melhores de 2014, apenas internacionais, é esta: