Mickey Junkies foi uma das referências do rock alternativo no Brasil nos anos 90. O quarteto de Osasco, que desde 1990 vinha testando formatos do que seria uma banda, juntou os trapos pela primeira vez em 27 de novembro de 1991, dia do aniversário de Jimi Hendrix, para um show na extinta casa Dynamo, com Rodrigo Carneiro (voz), Érico Birds (guitarra), André Satoshi (baixo) e Alexandre Carvalho, depois substituído por Ricardo Mix na bateria. 

Após vários ensaios e bons shows, em 1992 o Mickey Junkies gravou sua primeira demo, “Always on the beat”, com Edson X da banda Gueto como produtor. Junto com Killing Chainsaw, Pin Ups, Tube Screamers, Okotô, todas de São Paulo, Mickey Junkies rodava os porões da capital, tocando praticamente em todos lugares possíveis da cidade.

Ainda em 1992, gravaram a 2ª demo ao vivo numa das casas noturnas mais famosas da época, o Espaço Retrô. Sem tocar na rádio, sem gravadora por trás (na época existiam pouquíssimas gravadoras independentes, a maioria eram selos distribuídos por multinacionais) e numa época pré-internet, o máximo que qualquer banda conseguia eram citações em matérias sobre o udigrudi nacional e ter o Jello Biafra, ex-Dead Kennedys na platéia de um de seus shows, no Der Tempel em 1992. Com toda esta bagagem, ainda em 92, o MJ faz seu grande show, no Aeroanta em SP, abrindo a noite para um show do DeFalla.

Aparecer na imprensa não era problema para o Mickey Junkies: em 1º de janeiro de 1993 o jornal Estado de São Paulo estampava na capa de seu caderno cultural uma matéria com Dave Grohl, na época ainda baterista do Nirvana, elogiando os discos de bandas brasileiras. A respeito da demo Mickey Junkies, Grohl comentou: “Tem influências de punk antigo, é cool !” Em fevereiro de 93 eles gravam a 3ª demo, desta vez ao vivo no programa Clip Independente, que colocava bandas brasileiras ao vivo na Brasil 2000 FM durante 1 hora semanalmente. São justamente algumas destas versões que estão no relançamento do Stoned (ver MP3 ao lado).

Ainda em 1993, os críticos da revista Bizz elegeram o Mickey Junkies como 4ª colocada no quesito revelação de 1992. À frente deles, Skank e Daniela Mercury, com um honroso 1º lugar para o Second Come. Mas o melhor de 1993 ainda estava por vir: o Mickey Junkies participou do 1º Juntatribo, festival alternativo que aconteceu na UNICAMP naquele ano e reuniu as melhores bandas do underground brasileiro. O jornalista Felipe Christ escreveu num jornal da época: “Mickey Junkies foi um dos destaques da noite. O vocalista ensandecido ganhou a atenção do público apoiado por uma banda competente…”

“A True Noise Experience” foi a 4ª demo da banda em apenas 2 anos de existência. A esta altura do campeonato, bandas contemporâneas como Second Come, Killing Chainsaw, Pin Ups e Virna Lisi já tinham seus discos, só faltava o do Mickey Junkies. A banda continuava a tocar bastante, aparecia em vários programas de TV, em todas as revistas e jornais possíveis, eram o must dos fanzines da época. Além disso, a música “Holiday on Ice” estava entre as mais tocadas da rádio Brasil 2000, e entrou numa coletânea em CD do programa Clip Independente.

44a.jpgEm 1994, outra coletânea, a famosa “No Major Babes” do selo Caffeine, distribuído pela Paradoxx e organizado pelo jornalista Marcel Plasse, trazia a versão exclusiva de “Waiting for my Girl”. Este primeiro contato com a gravadora Paradoxx resultaria no CD Stoned, gravado em julho de 1995 e lançado no mesmo ano pela Paradoxx, uma das poucas independentes “grandes” da época. O disco foi produzido por R.H. Jackson (que havia gravado “Scrabby” do Pin Ups).

Mas após ter conseguido o que todas as bandas da época procuravam – gravar um disco – os problemas que levariam ao fim da banda começaram. De acordo com entrevista ao fanzineiro Andhye Iore, Rodrigo explica o que aconteceu:

 

 

Andhye Iore – O Mickey Junkies conseguiu algo que muitas bandas que estavam na estrada há anos nunca conseguiram: um contrato com gravadora. Qual foi a história com a Paradoxx?
Rodrigo Carneiro – Após uma série de ameaças de contrato e burocratas nos saudando como the next big thing altas horas da noite, estavámos completamente desinteressados em ficar fazendo contato com gravadoras. Focalizamos todas as energias num sistema gratuito de distribuição de fitas demo (nós as gravávamos no estúdio da Brasil 2000 FM e os interessados nos mandavam cassetes virgens, que eram devidamente preenchidas, e selos para o retorno)e aos shows. Num deles (no Sesc Pompéia) apareceu o diretor artístico da Paradoxx, um enganador bicudo chamado Zé Luiz. Na festinha de camarim, ele começou com a mesma conversa que já tínhamos ouvido antes de outras pessoas do ramo. Cortei o bla-bla-bla dizendo que se ele pretendia falar de trabalho, decididamente, ali não seria o melhor momento. Trocamos telefone e ele realmente ligou no dia seguinte sinalizando o intento. Em paralelo, o Marcel Plasse estava negociando com a gravadora para o lançamento dos 2 CDs da coletânea No Major Babes, que estava engavetada havia quase dois anos. Acertamos com eles. Não houve grandes benefícios. A Paradoxx é a pior gravadora do mundo e gerida, à época, por pessoas de má índole. Uma série de combinados não foram cumpridos, do tipo deixar sem pagamento o autor do projeto da capa, o Rafael Lain (eles queriam um designer funcionário da casa o que de cara já causou celeuma), tumultuar o orçamento do videoclipe, entre outros tormentos (conseguiram inclusive melar uma turnê internacional nossa por pura incompetência). A distribuição também pecou em alguns aspectos. As lojas alternativas tinham dificuldades pois há um número pré-estipulado para compra. Um grande magazine pode adquirir uma grande quantidade (de maneira aleatória podia-se encontrar Stoned no Carrefour ou nas Lojas Americanas, minha tia via e adorava). Já uma loja menor… e com todas essas histórias vinham exigir que participássemos de programas de TV e rádio horríveis. Não íamos, é claro. Nossa relação com a Paradoxx terminou com o murro no peito que eu dei no enganador já citado depois que ele me deu um beijo (no rosto) numa festa de lançamento de revista. Descontrole anos 90.
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Por que o Mickey Junkies acabou?
Foi uma série de fatores. No decorrer do tempo, as coisas foram ficando um tanto estranhas. O Mix (um dos meus bateristas prediletos e que , por sorte, tinha substituído o Alexandre da formação original) teve de se ausentar. O Alexandre acabou voltando. Foi um período em que paramos um pouquinho para respirar e findadas as relações com a Paradoxx passamos a ensaiar e compor novas canções, mas ,conceitualmente, eu e o Érico já não nos entendíamos. (…) Depois de percorrer todos os clichês do trinômio Sex, Drugs and Rock’n’roll me vi no mais idiota conflito “vocalista versus guitarrista”. Por essas e outras, resolvi sair da banda.

E Andhye ainda escreveu acertadamente: “Lançado em 1995, “Stoned” é o único disco do grupo e mostra algo à frente de seu tempo. Um disco difícil de clasificar. Com claras referências dos anos 70, há riffs poderosos da guitarra de Érico e uma alternância de hard rock com outros gêneros. Um Mudhoney com charme, vigor e inteligência. Enquanto Lou Reed esperava pelo seu fornecedor, Rodrigo bradava “Waiting For My Girl”, colocando o Mickey Junkies perfeitamente inserido no chavão drogas, sexo e rock’n’roll. Entre promessas nunca cumpridas, uma turnê internacional cancelada e o velho conflito “gravadora não divulga disco e banda não participa de programas idiotas”, o Mickey Junkies acabou em 1997, depois de uma série de acontecimentos dramáticos.”

O CD Stoned está sendo relançado online pelo mmrecords com 7 músicas extras – 3 delas com o baterista Alexandre Carvalho – tiradas das demos da banda. A capa para download é a mesma capa de 1995 com as modificações para a inclusão do bônus.

VÍDEOS
Clipe da música “Everything”

Entrevista para Showlivre, sobre elogios de Dave Grohl e Jello Biafra no período pré-internet – https://www.youtube.com/watch?v=AlPeBmjhGCI

Entrevista para Showlivre, relançamento virtual do disco e o lado artesanal das fitas demo nos anos 90https://www.youtube.com/watch?v=URwzTzHvzHY

Entrevista para Showlivre, após 10 anos, Mickey Junkies voltam a se apresentar ao vivo. Confira “Sweet flower”https://www.youtube.com/watch?v=SsuAzHC-_ZE

Abaixo, algumas preciosidades do underground nacional, com Mickey Junkies incluso.

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Stoned (+ bonus) 1995

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