IMG_8748_web foto por Gabriela Korr

Se escreve grisa, com “g” minúsculo.

É como a engenheira mecânica (Unicamp) e mestre em Engenharia de Vibrações, Acústica e Sensores (Le Mans Université, França) Giovana se chama ao jogar para o Mundo suas criações musicais. Até agora foram três singles, “Escarlate” (2020), “Selva de Pedra” (2020), “Incerteza”(2021), um NFT com “Incerteza II” (2021) e um EP “Caos // Mar Aberto” (2022).

No midsummer madness a estreia é o EP, “Wet Matchbox” que com 4 músicas em menos de 8 minutos nos deixou encantados. “Criei essas músicas durante uma viagem de ônibus do Rio até a cidade da minha família no interior de São Paulo. Quando cheguei, gravei todas em meu quarto num dia“.

Giovana começou cedo na música: aos 3 anos estudava flauta doce no projeto da Banda Municipal Lyra de Paraguaçu Paulista. Por volta dos 8 anos, Giovana brincava de montar banda com as amigas mas a brincadeira tinha nome, Ice Rock Girls, e QG no “quartinho da casa da avó“. Aos 13 anos já dava aulas de clarinete para outras crianças. Teve ainda banda de heavy/thrash-metal aos 15 e, aos 17, decidiu cursar Engenharia Mecânica na Unicamp pensando que se distanciaria da música. Que nada, na Universidade sempre arrumava uma banda para tocar. Com 19 anos, em 2017, começou um duplo mestrado em Engenharia Acústica na Le Mans Université (França).

Durante sua estadia na Europa, Giovana também foi pesquisadora na Universidade de Edimburgo (Escócia), presidiu uma associação estudantil na Le Mans Université, na qual organizou ateliês de fabricação de caixas de som, pedais de efeito e instrumentos musicais; estudou luthieria clássica e construiu uma cítara medieval, dirigiu e produziu um curta e sua trilha sonora, fez rádio, trabalhou como pesquisadora em acústica musical na Cité de la Musique – Philharmonie de Paris, e também atuou no Musée de la Musique de Paris preparando ateliers sobre a física do som para crianças de 6 a 12 anos. Ainda trabalhou na Devialet – Ingénierie Acoustique de France, em projetos de caixas de som de alto desempenho e aproveitou para utilizar os avançados laboratórios de eletrônica da empresa para construir seu primeiro teremim, que pode utilizar qualquer objeto metálico como antena.

Ufa!

Uma engenheira canta em um microfone; a curiosidade e o olhar analítico inerentes de sua formação querem entender como aquilo funciona, como todos os transistores, capacitores e afins dentro daquele ‘device’ amplificam sua voz e como as ondas sonoras se propagam pelo ambiente. A engenheira-cantora decide então estudar o comportamento do som,” resume bem a inquietude de Giovana, como descreveu perfeitamente  o blog Cansei do Mainstream.

De volta ao Brasil em 2020, no meio da pandemia e trancada em casa, Giovana participou de uma oficina online ministrada por Benke Ferraz (Boogarins) que, segundo ela, “abriu a mente para um processo de produção mais livre, e conheci muita gente daora que também mexia com produção musical. Isso deu gás para fazer muitas coisas. E eu tinha uma música gravada no intercâmbio, a ‘Escarlate’, decidi lançar para fazer um teste, ver como era lançar música de maneira independente“. Logo depois “Selva de Pedra” saiu em videoclipe e single:

Ainda presa em casa como todos nós durante a pandemia, Giovana começou a pesquisar NFTs e chegou até a plataforma hic et nunc onde decidiu lançar a faixa “Incerteza II”. Foi o primeiro lançamento de uma música independente brasileira da história em uma plataforma de cripto arte. A faixa é uma versão exclusiva do que viria a ser a 2ª música do EP “Caos // Mar Aberto”.  “Incerteza II” teve 122 cópias que são exclusivas de quem as comprou.

Um pouco depois, em Maio de 2022, saiu o 1º EP com 4 músicas: “Caos // Mar Aberto” foi idealizado, gravado e produzido por Giovana em seu quarto e mixado e masterizado em parceria com o produtor musical Everton Surerus, no Canil Recs em Juiz de Fora. “Geralmente eu escrevo tudo simples no violão mas neste EP o processo de composição aconteceu no software, eu compus ao mesmo tempo em que ia gravando, ficava buscando sons, até alcançar as sonoridades e texturas que eu queria. Eu gravava algumas coisas de um jeito completamente ‘errado’ segundo outros produtores, pegava a guitarra e gravava com placas de metal por cima dela, me deixei experimentar de tudo neste EP. Alguns sons ficavam horríveis inicialmente hahaha, mas eu ia descontruindo eles até chegar no que queria”, explica Giovana. As baterias do EP são todas do Jow Marques, gravadas no Perus Improvisos Estúdio em São Paulo.

Experimentando enquanto aprende, ela resolveu lançar “Caos// Mar Aberto” também como álbum visual, no canal YouTube da Esconderijo:

As quatro músicas de “Wet Matchbox” surgiram em momentos de coração apertado e nostalgia. Giovana estava saindo do Rio de Janeiro, onde havia morado por alguns meses e indo para sua cidade natal. “Eu tinha mudado completamente minha vida mais uma vez e é inevitável, o tempo sempre passa e arrasta tudo consigo. Nas viagens de ônibus eu escrevi as letras de Lowlife, Expectations e Pieces que vieram em inglês a minha mente. As melodias das músicas também, elas se criaram tão facilmente como se eu pudesse “ver” as cores dessas notas, que expressavam (pra mim naquele momento) exatamente os sentimentos que eu estava carregando. Fui escrevendo e gravando tudo em um grupo de whatsapp que tenho só comigo, gravei as melodias cantando bem baixinho no fone porque geral estava dormindo no ônibus“.

Chegando em Paraguaçu, ela passou um dia e uma madrugada gravando e mixando as músicas no quarto, sempre em um take, geralmente o primeiro. “Sei que existem alguns erros mas a veracidade daqueles pedacinhos de áudio vale mais do que qualquer outra coisa“.

Depois ela levou estes pedacinhos de verdade para o Yann Dardenne no Estúdio Fiaca em São Paulo para mixar e depois para o Canil Recs em Juiz de Fora onde masterizou com Everton Surerus com quem Giovana já havia feito o EP “Caos // Mar Aberto”.

Com uma faixa instrumental e 3 com letras em inglês, “Wet Matchbox” é o primeiro lançamento no idioma que não é estranho para Giovana que sempre compôs em diferentes línguas. O título do EP tem a ver com uma particularidade: todas as músicas possuem frases que remetem ao fogo. Além disso, as músicas são carregadas de uma confusão temporal, na qual passado, presente e futuro se confundem, marcada pela desilusão com a própria passagem do tempo em si.

As referências e influências passam por Ulrika Spacek, Deerhunter, Animal Collective, Beak> que segundo Giovana são nomes que ouviu bastante na época da composição do EP, além de outras influências perenes: “Eu tenho alguns álbuns e EPs preferidos que eu sei que sempre me influenciaram e nunca vão deixar de me emocionar, como é o caso do ‘His Young Heart’ e o ‘The Wild Youth’ da Daughter, ‘For Emma, Forever Ago’ do Bon Iver e ‘Carrie & Lowell’ do Sufjan Stevens. Compositoras que me marcaram muito durante a vida além da Elena Tonra (Daughter e Ex:Re) são Anika, Nico e Angel Olsen“.

A capa de “Wet Matchbox” parece foto mas é uma pintura a óleo da artista Gabriela Korr de Juiz de Fora. “Eu a conheci depois de um show que fiz no Maquinaria há uns meses atrás. Quando eu entrei no Instagram dela e vi a imagem deste quadro, eu achei inicialmente que fosse uma foto, mas observando os detalhes eu fui descobrindo a pintura e ficando a cada segundo mais hipnotizada. Junto tinha uns escritos dela que diziam ‘Essa pintura marca esse momento / esse retrato sobreviverá além de qualquer sentimento’ e isso me arrepiou“.

Autodidata, Giovana aprendeu a produzir e distribuir suas músicas sozinha. “Wet Matchbox” é a primeira parceria dela com um selo para poder focar 100% na parte artística: afiar a banda para fazer shows maiores, tours e um álbum cheio. Sua banda é formada por Giovana e Everton Surerus nas guitarras + efeitos, Daniel Mello na bateria, Pedro Tavares no baixo e Matheus Frog no sintetizador.

 

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