Mudanças radicais na vida de Fábio Andrade, o Driving Music. Em 2014 ele se mudou para Nova York para fazer um mestrado e doutorado. Ocupado com a vida acadêmica, Driving Music fez um ou dois ensaios com um show no meio, na Casa da Matriz, no Rio de Janeiro, em uma das férias passadas no Brasil.
Fábio ainda tentou lutar contra a falta de tempo e não deixar a música sair da vida dele, nisso houveram tentativas de gravar discos que não foram concluídas. “Aos poucos, a possibilidade de fazer música foi desaparecendo do meu cotidiano, e isso acaba suscitando várias perguntas – será que o disco que eu comecei a fazer em 2015 ainda faz sentido? Qual seria a melhor forma de expressar musicalmente a minha vida hoje? São perguntas que você dificilmente se faz num momento de produção contínua, mas que se tornaram muito fortes, e um pouco paralisantes, nesse contexto“, explica Fábio.
Fábio teve banda a vida inteira e ficar sem este espaço em seu cotidiano abriu espaço para reavaliação depois de mais de vinte anos. “Eu acho que é um processo que ainda não foi concluído, se é que será. Mas o desejo de fazer música nunca cessou. Por vários motivos, a quarentena acabou solicitando que eu lidasse mais frontalmente com esse desejo, e ‘Polaroid May Day’ surge nesse contexto. É a primeira gravação que lançamos desde 2017, quando gravamos – no caso, eu, Clarissa de Oliveira, Daniel Develly e Melvin Ribeiro – uma cover de “Welcome to the Jungle” para um tributo ao Appetite for Destruction, do Guns’n’Roses, organizado pelo Guga Bruno e lançado online“.
O Driving Music passou por algunas formações ao longo dos anos, desde que criou-se em 2007. Melvin Ribeiro e Daniel Develly estiveram presentes desde 2010; Raphael Erichsen, Gordinho (Pelvs), Gustavo Matos e Marcelo Calls participaram ativamente em épocas diferentes. Em formação de banda, Fábio e seu Driving Music fez shows principalmente no Rio e em São Paulo, e em algum momento desenvolveu uma rotina razoavelmente convencional de banda, ensaiando com regularidade e gravando músicas que não foram terminadas.
“Esse período foi de muita alegria pra mim, porque eu pude tocar com alguns dos meus melhores amigos que são músicos que eu admiro muito. Esse momento é interrompido alguns meses antes da minha mudança. O desejo era de que a troca continuasse virtualmente, e em alguma medida isso acontece, mas como a produção diminuiu muito no período, o tempo interno dessas trocas também fica muito rarefeito. Dito isso, esses períodos foram mutações mais duradouras de um projeto que nunca teve ambição de se fixar. Driving Music começa por volta de 2007, e a ideia sempre foi de ser um veículo para lançar minhas composições, independente do formato de gravação ou execução. As gravações foram feitas majoritariamente por mim, por imperativos práticos, com participações pontuais de outras pessoas que podiam ou não também tocar nos shows. E mesmo esses shows já aconteceram em diversos formatos – solo, duo, trio, quinteto, etc. A ideia sempre foi de um projeto que pudesse mudar de forma constantemente, porque essa era uma maneira de ele continuar existindo. Na minha cabeça, a Clarissa de Oliveira, que fazia as artes da banda e gravou vocais em três músicas, mas nunca participou de um show ou ensaio, ou o Gabriel Martins – que fez um vídeo de presente pra gente – são tão parte desse projeto quanto eu.”
Ainda segundo Fábio, há mais música inacabada para lançar ou relançar. Além do EP de 2010 e de “Comic Sans”, Fábio fez a trilha sonora de três filmes (“Superstonic Sound: The Rebel Dread” de Raphael Erichsen, 2010; “Exilados do Vulcão” de Paula Gaitán, 2013 e “Teobaldo Morto, Romeu Exilado” de Rodrigo de Oliveira, 2015) que nunca foram lançadas separadamente, além de alguns singles com versões alternativas ou covers que circularam por pouco tempo e acabaram sumindo. “Sem contar tudo que foi começado e não terminado. No começo da pandemia, eu tive três semanas de pausa inesperada do trabalho, um recesso longo. A atividade perfeita para esse contexto foi recuperar alguns HDs antigos onde estava a maior parte dessas gravações. Desde então, comecei a revisitar e organizar esse material, finalizar alguns desses projetos, remasterizar outros. A minha ideia é tornar tudo que me parece digno disponível ao longo dos próximos meses“, promete Fábio.
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O primeiro álbum do Driving Music, “Comic Sans”, lançado gratuitamente para download na internet no site da banda e no midsummer madness. “Comic Sans” tem 11 faixas gravadas e produzidas por Fábio Andrade em casa, com algumas participações especiais como Clarissa de Oliveira, Daniel Develly e Gustavo Matos. A arte da capa é da Clarissa.
O site Música e Tecnologia escreveu o seguinte: “Na primeira vez em que ouvi Comic Sans, disco de estreia da banda Driving Music (projeto do carioca Fabio Andrade), entendi logo qual era sua qualidade principal: o disco é um produto de seu tempo. E esse resultado tão contemporâneo chega a ser uma surpresa, quando ouvimos tantas influências tão claras ali, de Wilco (em Orange Traffic Cones e Unimpressed) a Fleet Foxes (nos vocais de Skatepark).” Leia a resenha na íntegra aqui.
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Rio de Janeiro, maio de 2010.
Driving Music nasceu em 2007 como uma maneira de soltar no mundo as canções que eu vinha escrevendo desde o fim da banda de punk rock em que toquei por 10 anos (Invisibles). Depois de alguns shows acústicos solo bem estimulantes, as peças começaram a se encaixar de maneiras imprevistas, e o que era originalmente um pseudônimo para minhas gravações caseiras logo se tornou um coletivo de músicos e artistas que combinavam seus talentos particulares e admiração mútua para criar juntos.
O ponto comum a todos eles era a insatisfação crescente com o atual cenário de música brasileira independente, e a intuição de que banjos, ukeleles e metalofones eram mais capazes de expressar esse sentimento hoje do que guitarras distorcidas.
As seis músicas deste primeiro ep são o resultado desse encontro. Gravado em casa, em janeiro de 2010, o disco incorpora a precariedade espontânea de artistas como Paul Westerberg, Guided By Voices e Neutral Milk Hotel, reunindo cinco músicas originais e uma cover para “Apartment Story”, canção da banda nova-iorquina The National.
Das cinco composições próprias, duas são interpretações de canções que eu gravei no passado, que aparecem reinventadas e reescritas para este novo momento. Os ouvintes mais atentos perceberão ecos de outros artistas nestas canções – indo de Beach Boys a Wilco – que são sampleados organicamente nas músicas, como uma encarnação analógica de arquitetos do mashp up como The Avalanches e Girl Talk. O desejo é que as citações sejam mais que meras referências, promovendo relações entre novas composições e os fantasmas musicais que as assombram e ajudaram a trazê-las à vida.
Em sua formação atual, o Driving Music devolve a cada um de seus integrantes aquele encanto inicial, o elemento essencial que tantas vezes parecia diluído pelas demandas imaginárias de suas bandas passadas: o amor pela música (em primeiro lugar como ouvintes dedicados) e a alegria bruta de criar entre amigos. Uma alegria que só se completa quando é compartilhada com quem está do outro lado, esperando a chance de vivenciá-la.
A nós, cabe apenas torcer que estas canções lhe proporcionem o mesmo prazer e satisfação que elas nos trazem.
Fábio Andrade
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Deste 1º ep, gravado em janeiro de 2010 e lançado em março do mesmo ano, participaram os artistas Fábio Andrade (ex-Invisibles), Raphael Erichsen (ex-Ack / ex-Samba Concorrência), Daniel Develly (PELVs) e Clarissa de Oliveira (arte e projeto gráfico)
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A versão da banda para “Love Vigilantes” do New Order foi originalmente lançada como lado B de um single do site da banda. Não faz parte deste primeiro EP. Mas nós adoramos.
A versão em CD do Ep está a venda na LOJA, não traz a cover para New Order.
Driving Music tem músicas em 2 trilhas sonoras:
– 3 músicas originais na trilha do documentário sobre Don Letts, “Superstonic“, dirigido por Raphael Erichsen;
– “I´m trying not to break your heart” (demo) no filme “No Meu Lugar” de Eduardo Valente.
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Destaque e alguns comentários elogiosos ao vídeo no blog The 1st Five, clique aqui para ler (em inglês)
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