chapa1.jpgNa quarta feira passada rolou a 2ª rodada de conversas do Chappa Quente, uma iniciativa louvável do site Sobremusica, das produtoras Tecnopop, Rinoceronte e Lunuz. Essa galera organizou uma série de debates aqui no Rio de Janeiro e já realizou 4 deles com uma produção muito bacana, que inclue convidados de outros estados, gravação do áudio e do vídeo das palestras e um site muito bem feito.Dia 21/03 o primeiro papo era sobre Rádio Online e Podcasts, onde deu para saber mais sobre a ABPod – Associação Brasileira de Podcasters, que pretende criar no site deles um espaço para bandas e gravadoras disponibilizarem áudio para os podcasts associados (e já são mais de 200). Foi bom saber que o pessoal das Rádios Livres continua pondo pimenta no ouvido dos outros e que a Rádio Interferência da UFRJ continua no ar; além de conhecer (finalmente) o jornalista Guilherme Werneck, que faz o Discofonia, um dos primeiros podcasts do Brasil e um dos meus prediletos.

marx-come-google.jpgNo mesmo dia à tarde foi que o bicho pegou. O tema era MySpace, Google, You Tube e Napster: as novas plataformas de mídia. Uma frase marcante foi a do Profº André Valle, da Fundação Getúlio Vargas: “O valor que o Google tem hoje é ser o acesso ao banco de intenções do Mundo”. Numa época em que se diz que a informação é livre a todos via internet, entender que quem sabe o que mundo deseja, tem muito mais poder na mão é agoniante. Este ponto de vista só reforçou a minha opinião que há de se ter cuidado com ferramentas como MySpace, YouTube, Tramavirtual e afins.

Explico.

Na minha opinião, MySpace, Fotolog, YouTube, Tramavirtual, Google, Wikipedia e qualquer site que venda o peixe de que é aberto ao público, de que é uma ferramenta para ser usada, deve ser encarado com cuidado. Não sou contra MySpace, YouTube, Tramavirtual – pelo contrário – uso todos os sites. Mas tento sempre usá-los apenas como ferramenta, como algo que vai atrair mais internautas para o sítio do mmrecords na internet (e aqui, entre latifúndios virtuais, a palavra sítio tem 2 bons significados).

Quando eu monto uma página do mmrecords no MySpace é apenas para atrair internautas para este site que você está lendo agora.

Eu quero que o meu site tenha tráfego e não o MySpace, o Fotolog ou a Tramavirtual (até porque eles já têm bastante). Por exemplo, quando um destes portais de venda de música na internet me pediu para incluir o catálogo do mm no site deles, perguntei se não tinha como eu vender a música das bandas do mm dentro do próprio site do mm usando a ferramenta deles (e, lógico, pagando uma porcentagem pelo uso). É claro que o portal não aceitou. Eu também não me interessei porque no final das contas eu teria que mandar um email para todos internautas cadastrados e listas de discussão do mmrecords avisando que agora a música de X banda estaria a venda no portal Y. E isso é o que? Propaganda gratuita para o Portal Y feita às custas de uma mala direta que o midsummer madness levou anos para montar. Isso custa caro, não é assim que se negocia um trabalho destes.

Outro exemplo: durante a palestra no Chappa foi dito que o portal Tramavirtual está tentando ter anunciantes no seu site como maneira de sustentar a página. Suponha-se que a Tramavirtual consiga um excelente anunciante (eu anunciaria, a base de assinantes deles é enorme e super segmentada). Este dinheiro do anúncio provavelmente seria usado somente para bancar o site – mas e as bandas que colocaram seus trabalhos lá e são a razão de ser do Tramavirtual? Ganham algo com isso? Provavelmente não…

Pode parecer marxismo puro num primeiro momento mas não é.

Pensem comigo.

A Tramavirtual não está errada de querer viabilizar seu negócio. Como já disse antes, eu mesmo montei páginas da Pelvs, do Captador e de outras bandas do midsumer madness lá. Mas, se estamos discutindo o futuro das plataformas, novos negócios e como isso vai funcionar, um lado desta cadeia está sempre sendo esquecido e diminuido e, aparentemente, está conformado com esta posição: os artistas!

Pessoas, se a Tramavirtual vai ganhar uma grana, se o YouTube vale 1 bilhão de dólares, é por causa do conteúdo que os artistas (músicos, videomakers) estão colocando lá.

É como um carro de corridas favorito para ganhar uma prova: todos sabem que ele tem o melhor conjunto, as melhores ferramentas, e este carro vai ganhar muita grana se chegar em primeiro. Mas qual é o combustível? São as músicas, as bandas, os vídeos, as fotos e isso é nosso. Até onde eu sei, para abastecer você tem pagar… Quando você usa o combustível, não paga e ganha corrida dizendo que sem o combustível você não seria nada, o combustível não pode simplesmente ficar feliz e ponto final.

O costume que está se criando é o que há de errado na minha opinião. Você dá a sua música, a sua foto, a sua história para sites como MySpace e Tramavirtual de graça simplesmente porque a ferramenta é boa, simplesmente porque todo artista novo têm que estar nestes sites… Não discordo disso, só acho que há que se pensar que a sua música, a sua história e a sua foto custam dinheiro. E que se você quer viver de música, este dinheiro tem que chegar para você em algum momento. Se o artista é o combustível, ele tem que entrar nesta corrida / negócio com outra atitude ou com outro papel. Porque se não, num futuro próximo, todo mundo que for artista vai ter que comer de graça em restaurantes, andar de ônibus de graça, etc, simplesmente porque eles são gênios que abastecem a mola da música no mundo, mas não merecem receber um puto por isso. Por outro lado o YouTube está bilionário, a Tramavirtual já é um negócio, o Fotolog é uma empresa e existem pessoas / famílias almoçando, comprando carros, casas, viajando e sendo felizes enquanto o músico só se fode.

Concluindo.

Não estou dizendo que o YouTube deveria repartir 1 bilhão de dólares entre seus assinantes, nem que o Tramavirtual deveria repassar sua verba às bandas. Mas também há de se pensar que existe um elo essencial para este tipo de plataforma que está sendo constantemente menosprezado: os músicos, que são justamente os que fazem esta roda girar. Já que estamos num momento de mudanças, de repensar esta cadeia de produção de música / arte, que se pense com mais carinho no papel de quem cria e quer viver disso.

Agora os inúmeros obs.:
1- concordo que artistas hoje em dia têm que ser quase uma micro empresa. Mas não podemos exigir isso de todos. Há que se garantir subexistência ao artista-artista (parafraseando Wanderley Luxemburgo) e evitar também que se extingüa profissionais como produtores, empresários e puxa-sacos de artistas.

2- está claro que quem controla os meios terá o poder. Se décadas atrás eram Sony, BMG, Warner, EMI e Universal que controlavam o mercado e os que mais lucravam com a música; em breve serão Apple, Google, Microsoft, etc. Alguém ai quer voltar a ter impérios dizendo o que vc deve ver e ouvir?

3- está na hora do mercado independente começar a formar e a cooptar nerds! Hoje em dia, um programador é muito mais importante para uma banda/ gravadora do que um produtor executivo. Mas aqui no Brasil, como bem disse o Profº André Valle “o mercado não é propício para criação de geniozinhos”. Eu adoraria que um nerd brasileiro inventasse uma maneira prática das bandas e gravadoras ganharem dinheiro com MP3 na net. Um nerd brasileiro entenderia melhor nossas necessidades e problemas. Se o YouTube fosse brasileiro, este 1 bilhão de dólares teria vindo para cá, geraria empregos… já pensaram nisso?

4- Está no ar o podcast da Chappa Quente – http://www.chappa.com.br/audios.php

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