Álbum de estreia do Churrus é relançado
Há 13 anos era lançado “The Greatest Day”, o álbum de estreia do Churrus, icônica banda oriunda de São João del-Rei, antro e fonte inesgotável do rock alternativo em Minas Gerais.
Gravado inteiramente em casa, na raça – num lento processo de mixagem em um laptop, que precisava do auxílio possante de um ventilador para que não se desligasse por superaquecimento (ou seja, o lo-fi em sua essência) -, pelos próprios membros da banda; Túlio Panzera (guitarra/vocal), Matheus Lopes (guitarra/vocal), Bruno Martinho (baixo) e b Berg (bateria), o disco captou perfeitamente a pluralidade de influências de seus integrantes, que bebem das mais variadas fontes do rock alternativo das décadas de 1980 e 1990, principalmente dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.
E isso fica evidente logo na abertura, “Awhile”, que remete, num espaço de 4 minutos, ao indie rock americano do Beulah e ao britpop mancuniano do Oasis. A partir daí, uma infinidade de ótimas bandas e vertentes do rock é lembrada pelos ouvintes ao longo das 14 faixas. Sonic Youth, Ride, Teenage Fanclub, Wilco, Pernice Brothers, Dinosaur Jr., Guided by Voices, The Jesus and Mary Chain, Catherine Wheel, etc., reticências…
Tendo alternado entre São João del-Rei, Belo Horizonte e a Inglaterra durante seus anos de formação acadêmica, Túlio parece ter desenvolvido um estilo próprio de composição, que condensava as características do lo-fi, punk, pós-punk, powerpop e shoegazing. A esse estilo, conferiu seu vocal igualmente próprio peculiar, e com a parceria de química rara com Matheus, com quem passaria a dividir as composições nos trabalhos seguintes, estava criada a sonoridade do Churrus. Uma atmosfera que vai do soturno ao ensolarado em poucos minutos, sem estranheza. Intercalando doçura e sujeira, peso e leveza… com o famoso “timbre estalado” das Telecasters marcando forte presença.
Desta forma, o álbum foi lançado em CD, de maneira independente. Após o show de lançamento, através da Pelvs, que fora convidada para tocar na ocasião, o disco chega às mãos de Rodrigo Lariú, da Midsummer Madness, que se torna parceiro na distribuição dos CDs, dando início à relação entre selo e banda que permanece até hoje.
De lá pra cá, muita coisa mudou. Da formação da banda aos recursos e facilidades de que ela dispõe para produzir suas músicas. Nesse meio-tempo, houve um revival de estilos como o pós-punk e o shoegaze, com vários artistas ao redor do mundo fazendo o que o Churrus já havia feito em 2007.
E vem fazendo de forma cada vez mais rica, elaborada, original. Não é raro, nas conversas entre os admiradores da banda, comentarem que algo “lembra Churrus” hoje em dia. E nesse cenário de shows cada vez mais enérgicos, intensos e prestigiados, dentre o catálogo cada vez mais numeroso de músicas (são 4 álbuns na discografia, dentre singles e EPs, atualmente), as canções do “The Greatest Day” continuam sendo pedidas e festejadas. “By Your Side”, única composição de Matheus no disco, é sempre a mais cantada, o hino da banda. “Hear About” nunca perde seu poder de catarse no público. “Seemed”, “Someday” e “Shakedown” nunca deixam de fazer falta nos setlists.
Esse é o legado daquele que teve a gravação mais rústica, menos lapidada. O álbum que teve todas suas cópias vendidas, esgotado, fora de catálogo e fora das plataformas de streaming. Bom… não mais. “The Greatest Day” is happening again. Remasterizado, o debute está sendo relançado e completa a discografia da banda nas plataformas digitais. Uma novidade mais que bem-vinda, dado o momento pandêmico que vive o mundo. E tanto quem ainda não conhecia esta obra-prima, forjada com paixão e despretensão, quanto os que já a desfrutam há anos, podem se preparar para ouvir coisas que nunca ouviram antes.
texto por Pedro Dias.
“The Greatest Day” foi também remasterizado e relançado na página da banda e no Bandcamp. Você consegue ouvir a masterização original de 2007 também na página da banda e no Bandcamp.
Os links para as plataformas digitais são:
Spotify
Apple Music