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Calma, o projeto solo do Guilherme Almeida, Electric Lofi Seresta, não está acabando.

Pelo contrário: hoje sai o 3º álbum solo do guitarrista da banda John Candy, intitulado “End of Decade”. As 12 músicas trazem um olhar pessimista sobre o fim da 1ª década do século XXI em músicas como “Western World”, “Hate Your Post” e “Fake News”. “São coisas que a gente pesca no ar. O comportamento de manada, mesmo quando bem intencionado, e a estereotipação das posições que são viralizados nas redes sociais. Na verdade, trata-se da mais formidável ferramenta de controle das subjetividades já criada, pois é afetiva – ‘fake news are a way to your hearts’, está lá em um dos versos da faixa ‘Fake News’ do novo álbum“.

Gravado em menos de 1 mês em casa, “End of Decade” obedece a regra da economia de recursos na gravação. Guilherme acha que se uma canção não mantem sua força a despeito dos pedais de efeito, ela não vale para o espírito do Electric Lo-Fi Seresta. “Improviso em casa todos os dias por prazer e por necessidade fisiológica. Chega um momento em que você quer se livrar daquelas músicas que estão na sua cabeça. Gravar é a melhor maneira de fazer isso. Por isso o processo de gravação é tão rápido“.

Em 2015, o ELFS lançou o 1º álbum “Noites Brancas” (Dufflecoat Records) e depois “Interstellar Motel Radio” (2017) pela paranaense NapNap Records. “End of Decade” sairá  em versões digital e também numa tiragem limitada em picture CD.

Dai é óbvio que todos fazem a mesma pergunta: CD? “Os suportes físicos para música nunca desapareceram e nem irão desaparecer, por um motivo, se me perdoe o palavrão, fenomenológico: eles dão um senso de permanência e de identidade ao ouvinte. Mas não vejo por que ser contra o streaming, eu não sou contra – quanto mais opções para escutar música, melhor“, conclue Guilherme.

Então, para ouvir “End of Decade” online:
no Bandcamp do midsummer madness
Deezer
Spotify

Guilherme é professor de Filosofia no Instituto de Educação. A foto da capa foi feita durante a ocupação de estudantes na crise do Estado do Rio de Janeiro em 2016. “Alguns alunos me chamaram para fazer um show na ocupação para arrecadar alimentos para os funcionários que estavam 6 meses sem receber salários. Essa foto tirada nesse dia, na saída da ocupação, foi um dia especial, na minha década pelo menos“.

Junto saiu hoje um clipe para a faixa-título. Guilherme comenta: “O clipe tem também esse mesmo tom retrospectivo. Pelos menos umas 50 pessoas, até onde pude contar, que frequentavam as festas indies cariocas nos últimos 10 anos podem ser identificadas no clipe. Tanto a capa como o clipe são obras da Tati” (Tatiana Guimarães, esposa de Guilherme e produtora de shows).

Um dos pontos mais interessantes de conversar com o Guilherme e ouvir as músicas do Electric LoFi Seresta são as divagações sobre temas que muitos julgam banais, como o streaming: “Com ele vieram uma série de hábitos ruins, como a péssima administração e qualidade dos arquivos em alguns serviços, os algoritmos que deseducam a curiosidade de explorar por conta própria. No passado não era melhor. Mas também não era necessariamente pior, como querem alguns que confundem atitude progressista com conformismo às novidades. Esse apelo ao conformismo às novidades, isto sim é reacionário demais, como toda conformidade. ‘Conforme-se, adapte-se ao novo, agora é assim e acabou!’– isto é horrivelmente conformista, como se a atualidade fosse sempre resultado de uma lei evolutiva que deve se impor, quando sabemos que se não há uma metafísica do progresso (nem de decadência) na História, que dirá na cultura pop, da qual o indie faz parte”.

O contato “real” com o público, desejo intrínseco ao suporte físico, poderá se materializar em shows? “Serão poucos shows, como sempre foi com o Electric Lo-Fi Seresta. No Rio, em Maringá, em Juiz de Fora e São Paulo há convites. Para os shows, a bateria é responsabilidade do garoto nota 10, Joab Regis, que também toca comigo no The John Candy há muitos anos. E vou experimentar alguns shows com baixo, que ficará com meu velho amigo virtuose Rafael Valverde, o maior fã de Lilys do planeta Terra, fato incontestável“.

Auto-proclamada a única banda a executar versões de East River Pipe e Go-Betweens, Guilherme também conhece as esquinas das pistas de dança e a tampa neural da maioria dos ouvidos para uma série de sons. Estas experiências foram detalhadas na incrível “To Empty the Dancefloor” que lista uma sequência de músicas capaz de esvaziar qualquer festa.

Eu estava com dificuldade de colocar letra nessa música mas não queria dispensá-la porque gostei do instrumental dançante meio Furacão 2000 das antigas cruzado com o climão Cocteau Twins circa 1984. Aí me lembrei de algumas festas nas quais discotequei nos últimos anos, onde eu invariavelmente esvaziava a pista com algumas das bandas citadas nesta música. Action Painting, Bart & Friends, Bilinda Butchers, Cleaners From Venus, Half String… onde eu estava com a cabeça para dar esse prejuízo aos que me convidavam para discotecar? São uns santos, agradeço a todos“.

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