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No comecinho de novembro de 2018, Minds Away tocou em Florianópolis, junto com The Dolls, Gambitos e Cuba Drinker and the Hi-Fi’s. Foi o primeiro show da banda na cidade desde 2004 (antes disso o anterior tinha sido em 1999) e coloquei o cartaz no meu instagram. O primeiro comentário que apareceu foi do Rodrigo Lariú, imperador do midsummer madness: “Eu li Minds Away? Tá certo isso?

Tanto o entusiasmo quanto a admiração do patrão fazem sentido. Porque Minds Away, que provavelmente vão odiar essa expressão, são uma instituição do rock independente de Blumenau, de Santa Catarina e do Brasil que andou meio sumida e depois meio escondida. E o novo EP, “Talking Closer”, que sai nessa sexta-feira, dia 2 de abril, exatamente pela midsummer madness, é a primeira novidade fonográfica da banda desde que a música “Gjorn” entrou na coletânea “Controle”, em 2001. É de se ficar surpreso e querer confirmar mesmo.

Quem já conhece Minds Away e já viu show, não importa em qual século tenha sido, vai encontrar um velho amigo: a formação traz Alexandre Lima (guitarra e voz), Junior Sofiati (guitarra e voz), Giba Moura (baixo) e Xando Passold (bateria), aqueles mesmos. “Don’t Let Me (Shock Me Shock Me)”, “Sleeping on the Bus” e “Shiny Pretty Shake” fazem parte do repertório da banda quase que desde sempre. E aqui estão elas, daquele jeitinho que a gente gosta, com invenção, mas sem inventar muito, as melodias e refrões que quando vai ver estamos cantando junto, as guitarras na cara e aquela empolgação meio malandra.

Nesse sentido, a novidade do EP é “Send In the Clouds”, cover clássico dos Silver Jews. A ideia de fazer um tributo à banda surgiu entre o grupo dos amigos catarinas no whatsapp pouco após a morte de David Berman, em agosto de 2019, mas quem conhece esse grupo particular de catarinas não ficou surpreso do
plano não ir adiante. Minds Away, que estava no processo de gravação do que viria a ser esse EP, no entanto, gravou sua parte. “Parece que era um dever. Prazeroso, porém de alguma forma necessário. As novas gravações geraram algumas tensões internas e essa cover ajudou a gente a superar e continuar a trabalhar”, lembra Lima.O esforço compensou: a versão revisita a sonoridade lo-fi que faz parte das origens tanto de Minds Away quanto dos Silver Jews e ganhou a bênção da gravadora Drag City, lar da banda estadunidense.

Tá, mas e quem não conhece? Aí o negócio é o seguinte: Minds Away surgiu em Blumenau ali pela metade da década de 1990, como continuação da cena punk rock da cidade de poucos antes, agora muito mais próximos do rock alternativo pós-Hüsker Dü e da mentalidade International Pop Undergroud. Canções melodiosas com guitarras altas, achando bonito ser Beatles e nunca esquecendo do que aprenderam com os Ramones. Nessa brincadeira, foram fundamentais primeiro para estabelecer uma cena alternativa na cidade e operar conexões primeiro com Santa Catarina e depois com todo o Brasil. Para gravar e distribuir suas duas cassetes (“Cotton for Your Ears”, de 1996, e “Painting Dreams”, de 1997), brilharam nas possibilidades da estética lo-fi e dos selos de fita, que, de novo, foram fundamentais para a cena independente brasileira.

Depois disso, se esconderam um pouco, pararam um pouco, mas “Talking Closer” é um começo tão perfeito quanto qualquer outro para conhecer e se embrenhar na banda e um reencontro emocionante para quem esperou esse tempo todo.

Tá certo isso.

(por Fábio Bianchini – Os Gambitos / Superbug)

“Talking Closer” é um lançamento da Low Tech Recs em parceria com o midsummer madness.
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