pelvs-friends.jpg

Em 2012, perto de comemorar 22 anos de carreira e 20 anos do lançamento de seu 1º disco, “Peter Greenaway’s Surf”, a PELVs lançou “1991-2012 Caixa”, uma coletânea em 4 volumes com demos, sobras de estúdio, versões ao vivo e outras raridades. A intenção inicial era lançar uma caixa de CDs e “limpar os cinzeiros” para fechar um ciclo que começou antes mesmo do lançamento do 1º disco pelo selo Rock It!

Mas em 2012 o formato CD já estava desprestigiado e “1991-2012 Caixa” saiu apenas em formato digital no Bandcamp da Pelvs. Em 2021, as 68 faixas, cuidadosamente divididas em 4 Volumes com 17 músicas cada, estão sendo disponibilizados para os serviços de streaming.

 

HISTÓRIA: 

Pra começar, não foi formada: se formou. Quatro amigos que curiosamente não se conheciam mas estavam pensando música de um jeito parecido. Gustavo Seabra, Dodô, VRS Marcos e Rafael Genu. Sem instrumentos definidos a não ser no palco, quando assumiam, respectivamente, guitarra e voz, bateria, guitarra e baixo. Os três primeiros tinham acabado de sair (estamos no começo da década de 90) de uma experiência meio MPB, meio etérea, meio elétrica, chamada Verve. Deixaram a Verve para experimentar novos passos. A paixão pelo estúdio foi a primeira coisa que notaram em comum. Ensaios eram menos frequentes que as gravações ou estudos de músicas. No entanto, pouca coisa foi lançada. Três fitas-demo e um álbum independente. O que permanece escondido nem eles sabem: o intuito não era registrar, era tocar.

Logo na primeira demo a banda resolveu adotar o nome que seria o de todas as suas produções até o primeiro disco: Peter Greenaway’s Surf. Funcionou como um slogan da campanha que começou com nove músicas na demonstração inicial, 21 na segunda fita – esta intitulada Peter Greenaway’s Surf – Summer Version – e o mesmo número de faixas no vinil que também virou CD (Rock It! / 1993).

Ao contrário do nome, o som da banda mudou bastante neste rápido período de 92 a 94. O começo confuso refletia em barulheira semi-esquizofrênica. Mas a tendência para o lado da melodia aumentou e, por conseguinte, outras fronteiras tiveram que ser descobertas. A melodia ganhou espaço nas suas mais variadas manifestações, da preocupação lírica de Lloyd Cole à simplicidade feroz de Lou Reed.

Durante o ano de 95 o time ficou com um a menos. VRS Marcos teve que deixar a banda e passou a não-se-dedicar ao seu projeto Aerowillys. Atrasar o Aerowillys significava apenas atrasar a si mesmo. Ao mesmo tempo, VRS tornou-se sócio do midsummer madness, que viria a ser a nova gravadora da Pelvs por volta de 1996. Na banda, o resultado da saída de VRS foi uma nova demo no final de 96 – mm21: Bric a brac between aspirins – com faixas inéditas e novas versões (acústicas) de músicas antigas, do álbum Peter Greenaway’s Surf e das duas demos homônimas.

Era o prenúncio de um novo disco. Gustavo e Dodô construiram o Estúdio Freezer. Lá, a PELVs gravou seu segundo álbum, Members to Sunna (midsummer madness, 1997) de produção própria e que mostra uma nova cara para a banda: mais motivada para traçar seu próprio caminho.

Com uma pontualidade digna de Copa do Mundo, em 2001 eles voltam a invadir a nossa praia: nem tanto ao mar, nem tanto à terra, com Peninsula (midsummer madness) a PELVs alcança a maturidade. As composições atingiram o grau de requinte que já se anunciava em Members, mas sem abrir mão dos ganchos pop do primeiro disco. Atentos à lição de Alan Ginsberg (“o método deve ser a mais pura carne / e nada de molho simbólico”), a banda usa os recursos do estúdio Freezer não como um fim, mas como instrumento para lapidar ainda mais as canções. Outro fator que auxiliou a gestação de um trabalho tão bem resolvido é que, na contramão do “downsizing” adotado pelas empresas modernas, a PELVs havia aumentado de tamanho: agregou à sua formação o guitarrista Gordinho e o trompetista Pedro Alcoforado (que também ajudam nos vocais), além do baterista Ricardo Mito. Arriscada a se tornar um “projeto” do baixista Rafael Genu e do guitarrista, vocalista e compositor Gustavo Seabra quando Dodô, após o lançamento de Members, pendurou as baquetas, hoje a PELVs é novamente uma banda, mais entrosada no palco a cada dia que passa. Além do próprio Dodô (que canta “Acid A.L.”, composta por ele), participa ainda de Peninsula outra figurinha carimbada da indielândia carioca: Beatriz Lamego (do Stellar), responsável pelos vocais da deliciosa “Ricardo”, que encerra o disco.

pelvs-carro-2000.jpg

Peninsula rendeu excelentes críticas. O jornalista Alexandre Matias, escrevendo para a finada revista Frente, o listou como um dos 20 discos independentes brasileiros mais importantes. No Correio Braziliense, Carlos Marcelo escreveu que o disco chegava “próximo a perfeição”. Até o hypado Lúcio Ribeiro cedeu umas poucas linhas em sua coluna na Folha de SP para dizer que o “grande toque brazuca” era o “rock’n’roll bem feito” da Pelvs. Peninsula também rendeu boas viagens: a Pelvs foi pela primeira vez ao Nordeste, tocar com Teenage Fanclub em Recife; viajou também pelo Sul abrindo todos os shows da turnê do Luna.

Pedrão deixou a banda para tocar com BNegão. Gustavo gravou com Dodô o projeto Pessoas do Século Passado (Slag/ 2003). Em 2002, com 10 anos de banda, quase lançaram uma caixa com 3 CDs de músicas extras. A caixa virou lenda quando as músicas novas começaram a entusiasmar mais a banda que levou uns 2 ou 3 anos compondo e gravando para o quarto disco, Anotherspot (já esgotado).
Este novo disco comprova que, às vezes, a regularidade pode ser a maior das surpresas. Na modorra do que se tem convencionado chamar de rock brasileiro, é profundamente espantoso que uma banda carioca formada há quinze anos continue lançando discos regularmente, e que cada um seja mais consistente que o anterior. A PELVs difere das suas contemporâneas porque elas estão mortas e enterradas, e distingue-se da produção recente não só pela qualidade, mas porque é bem difícil imaginar alguma banda nova que venha a desenvolver uma carreira. Talvez porque os neófitos, como todo calouro, ainda tenham a pretensão de se tornarem “grandes”, e nisto apostem suas fichas; a PELVs já se contentou, há muito, em criar uma obra. O que não é pouca coisa.

A produção e as composições de Anotherspot, como sempre, são da banda, com destaque para Gustavo, eterno centro criativo da PELVs. O baixista Rafael Genú é o outro pilar restante da fundação, enquanto Gordinho e o baterista Ricardo Mito são remanescentes da década passada. A banda chega em Anotherspot como um septeto, completo com os guitarristas Daniel Develly e Clínio Jr., além do tecladista André Saddy. Outro componente importante das sessões de Anotherspot foi o veterano engenheiro de som Chico Donghia.

texto de Bruno Notre Dame Lewicki adaptado livremente pelo mm.

 


 

Comentários sobre Anotherspot na imprensa:
1°) “Anotherspot”, Pelvs. Soa ao mesmo tempo injustiça e elogio incluir um disco, o quarto, terceiro pelo selo Midsummer Madness, da banda carioca nesta seleta. Injustiça com os outros concorrentes: a Pelvs tem 14 anos de história. Elogio para ela própria: ela continua independente após todo este tempo – e este é o seu melhor trabalho. (…) É isso aí, Ana Carolina: são quatro guitarras. Elas trançam um som singular e refinado, climas mais que canções, que alinha a Pelvs ao chamado pós-rock (de, por exemplo, Sigur Ròs e Explosions in the Sky) sem perder referências mais antigas (My Bloody Valentine e Lloyd Cole, citado na faixa “Tupiguarani”, que, apesar do nome, é cantada em inglês, como todo o resto da obra da Pelvs). Difícil destacar algo num CD tão coeso, mas lá vai: os 10 líricos minutos quase instrumentais de “Baby of Macon”, um novo arranjo para uma das primeiras demos da banda.
por Arthur Dapieve – nominimo.com.br

Top 5 alternativo pela GORDURAMA
[03] Pelvs | Anotherspot [Midsummer Madness] – O Pelvs é uma banda experiente que tem a louvável característica de SEMPRE aprender com seus acertos. Passaram de um molde alternativo-pesado-melódico para um indie-rock levado à surf-music, mas sem abdicar da melancolia e da instrumentação riquíssima [vá ouvir o Members to Sunna deles] e agora a este belo exemplar de college rock cheio de ambientações, surpreendente, multidirecional e poderoso. E o grupo, um septeto, tem QUATRO GUITARRAS. Depois de uma década e meia de banda, chegar com um disco desses, seu melhor álbum ever, deve ser no mínimo gratificante. E isso é bilateral: recompensador pra quem faz [imagino] e pra quem ouve [com a mais absoluta certeza].

A Notícia / SC
Fora isso, o Pelvs se deita sobre suas influências do rock inglês (e muito Velvet Underground, Galaxie 500 e Yo La Tengo) para tecer longas (mesmo) passagens regadas a guitarras inebriantes, mas que não dependem de distorções e feedbacks o tempo todo. Pegue-se o exemplo de “Baby Bacon”, a faixa de abertura, que toma tempo (e algumas notas emprestadas de “How to Be Dead”, do Snow Patrol) para chegar aos versos, e depois segue flutuando até atingir seu objetivo: hipnotizar o ouvinte. É quase o mesmo caminho de “Run of the Mill”, só que de uma maneira muito mais tensa, graças ao cenário fantasmagórico criado por órgão e guitarra. Um choque quando se ouve “Beans Can’t Clap”, com seu arranjo meio pop oitentista, meio bossa nova, ou então “The Ballad of Tom Cody and Ellen Aim”, que se esforça para parecer alegre, mas aquela alegria à la Belle and Sebastian.
por Rubens Herbst


: Contato

: Discografia

1991-2012 Caixa – Volume 1
2013

COMPRAR

1991-2012 Caixa – Volume 2 2013

COMPRAR

1991-2012 Caixa – Volume 3 2013

COMPRAR

1991-2012 Caixa – Volume 4 2013

COMPRAR

Soul Celebration 2021

COMPRAR

Air Guitar (2021)

COMPRAR

Anotherspot 2006

COMPRAR

Peninsula 2001

COMPRAR

Even If the Sun Goes Down, I’ll Surf 2000

Members to Sunna 1997

COMPRAR

Bric a Brac Between Aspirins 1996

COMPRAR

Come On Feel the NoiZe – BraZil Class’17 2017

COMPRAR

Peter Greenaway’s Surf 1994

COMPRAR

©midsummer madness 1997-2024